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Greve dos Correios se espalha por nove estados e paralisa São Paulo nas vésperas do Natal

Na noite de terça-feira, 16 de dezembro de 2025, os trabalhadores dos Correios em São Paulo fecharam portões, montaram piquetes e decidiram: não há mais espaço para negociações vazias. A greve, decretada em assembleia soberana pelo SINTECT-SP, não foi um ato isolado — dentro de 48 horas, a paralisação se espalhou para Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ceará, Paraíba e Mato Grosso. Nove estados. Milhares de mãos que movem o país. E um recado claro: não se negocia com a fome no peito.

Por que essa greve é diferente?

A resposta está no detalhe. Não é só sobre salário. É sobre dignidade. Desde julho de 2025, os trabalhadores pedem reajuste retroativo a agosto — algo que, se concedido, significaria um aumento real acima da inflação. Mas o que mais dói é a ameaça de perder direitos já conquistados: o adicional de 70% nas férias, o pagamento de 200% nos finais de semana e, especialmente, o vale-peru de R$ 2.500, um benefício que, para muitos, é o que permite comprar presentes, alimentos e até pagar contas no Natal. "A categoria não vai aceitar ser penalizada por uma crise que não foi ela que criou", disse o SINTECT-SP em comunicado. E não é só rhetoric. É a realidade de quem vive de salário fixo, com filhos, contas e um sistema que, aos poucos, desmonta o que foi construído em décadas de luta.

Enquanto isso, a direção dos Correios insiste em dizer que "90% a 91% do efetivo continua trabalhando". Mas o que isso significa na prática? Que 9 em cada 10 funcionários estão na linha de frente, sem reforço, sem descanso, sob pressão. Que os poucos que não estão em greve são os que carregam o peso de toda a operação. E que, mesmo assim, os serviços estão lentos. As encomendas acumulam. As agências fecham cedo. As cartas não chegam. É um sistema em sobrecarga — e a população, mais uma vez, é quem paga a conta.

O papel do Tribunal Superior do Trabalho

Entre o silêncio da empresa e a indignação dos trabalhadores, entrou o Tribunal Superior do Trabalho. Desde 11 de dezembro, o TST mediou audiências para tentar evitar o pior. E saiu com uma proposta: um Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) para 2025/2026, com validade de dois anos, que promete "preservar benefícios já conquistados". Um texto técnico, equilibrado — mas que, para os sindicatos, ainda é insuficiente. Não há reajuste retroativo claro. Não há garantia do vale-peru. E, pior: não há compromisso de investimento real na infraestrutura, que está caindo aos pedaços em muitas regiões.

A próxima assembleia decisiva está marcada para terça-feira, 23 de dezembro de 2025. Se a proposta for aprovada, o acordo será assinado em 26 de dezembro, às 14h, no próprio TST. Mas se for rejeitada? A greve não só continua — pode se intensificar. E isso não é ameaça. É lógica. Quando o diálogo some, a rua fala. E em São Paulo, a mobilização é a mais forte do país. É aqui que o coração dos Correios bate mais forte. É aqui que os piquetes se multiplicam. É aqui que o recado é mais alto: "não há Correios fortes sem trabalhadores valorizados".

Um Natal sob pressão

O Natal é o pico do ano para os Correios. Em 2024, a empresa movimentou mais de 300 milhões de itens entre novembro e janeiro. Em 2025, com a crise financeira da estatal e a greve em pleno andamento, a expectativa é de que pelo menos 15% das encomendas não cheguem a tempo. Para pequenos comerciantes, que dependem dos Correios para entregar presentes, é um desastre. Para famílias que enviam cartas e pacotes para parentes longe, é uma dor. Para os próprios trabalhadores, é uma contradição: eles querem que o serviço funcione — mas não podem fazer isso sem condições mínimas.

A empresa alega que "medidas contingenciais" garantem a continuidade. Mas o que são essas medidas? Contratação temporária? Redução de horários? Aumento da carga de trabalho? Nada disso resolve a raiz do problema. O que falta é coragem política. E, talvez, um pouco de empatia. Os Correios não são uma startup de logística. São um serviço público. Um direito constitucional. E os trabalhadores não são números em um balanço — são pais, mães, filhos, que acordam às 4h da manhã para entregar cartas de crianças que pedem presentes ao Papai Noel.

O que vem depois?

O que vem depois?

Se o ACT for aprovado em 23 de dezembro, a greve pode acabar em 26. Mas o clima não vai se acalmar. Ainda há dívidas históricas: salários atrasados, estruturas degradadas, falta de investimento em tecnologia e segurança. E se o acordo for rejeitado? A greve se torna nacional. E a pressão sobre o governo federal — que ainda não se manifestou — vai aumentar. Afinal, quem financia os Correios? O contribuinte. Quem sofre com a paralisação? O cidadão. Quem paga o preço da inação? Todos.

Essa greve não é só sobre dinheiro. É sobre o que queremos para o serviço público. Se permitirmos que direitos sejam cortados em nome de uma crise que não foi causada por quem trabalha, o que sobrará? Um sistema que entrega pacotes, mas não respeita quem os entrega.

Frequently Asked Questions

Quais são as principais reivindicações dos trabalhadores dos Correios?

Os trabalhadores exigem reajuste salarial retroativo a agosto de 2025, manutenção do adicional de 70% nas férias, pagamento de 200% nos finais de semana e a garantia do vale-peru de R$ 2.500. Também pedem melhores condições de trabalho, como redução da carga horária excessiva e investimento em veículos e unidades operacionais. Alegam que a empresa está tentando transferir os custos de sua crise financeira para os funcionários.

Como está a situação das entregas atualmente?

Apesar do anúncio dos Correios de que 90% a 91% do efetivo está trabalhando, há relatos de atrasos significativos, especialmente em São Paulo e outras regiões com piquetes ativos. Agências estão fechando mais cedo, e encomendas de Natal estão sendo retidas em centros de distribuição. A operação ainda funciona, mas não com eficiência — e muitos consumidores já relatam não receber presentes a tempo.

O que é o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) proposto pelo TST?

O ACT 2025/2026, elaborado pelo Tribunal Superior do Trabalho após mediações em dezembro, é um texto de dois anos que busca preservar direitos já conquistados, sem novos reajustes retroativos. Ele não garante o vale-peru nem fixa aumento salarial específico, o que levou os sindicatos a considerá-lo insuficiente. A proposta será votada em assembleias em 23 de dezembro.

Por que São Paulo é o epicentro da greve?

São Paulo concentra o maior número de trabalhadores dos Correios no país — cerca de 18% do total nacional. Além disso, o SINTECT-SP tem histórico de mobilização forte e organização sindical eficiente. A greve em SP serve como exemplo e pressão para os outros estados, tornando-se o símbolo da luta nacional. A cidade também é o principal centro logístico da empresa, o que amplifica o impacto da paralisação.

O governo federal já se posicionou sobre a greve?

Até o momento, o governo federal não emitiu qualquer declaração oficial. Isso é visto pelos sindicatos como uma forma de negligência, já que os Correios são uma estatal federal. A ausência de diálogo político aumenta a tensão e alimenta a percepção de que os interesses da empresa estão acima dos direitos dos trabalhadores e da população.

O que pode acontecer se a proposta do TST for rejeitada?

Se a proposta for rejeitada na assembleia de 23 de dezembro, a greve será estendida indefinidamente e pode se tornar nacional, com bloqueios em outras capitais. O SINTECT-SP já sinalizou que não haverá retorno ao trabalho sem garantias concretas. A pressão sobre o Congresso e o Ministério da Economia aumentará, e o risco de paralisação total nos dias mais críticos do Natal é real.

dezembro 19, 2025 / Economia /