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Cremonese cala o San Siro: 2 a 1 no Milan estraga volta de Allegri na estreia da Serie A

San Siro em silêncio: Cremonese resiste, é cirúrgica e estraga a festa

O San Siro esperava uma noite de recomeço, mas saiu em silêncio. Na estreia da Serie A 2025/26, o Milan perdeu em casa por 2 a 1 para a Cremonese, que combinou defesa firme com precisão nos momentos certos. A volta de Massimiliano Allegri ao comando rossonero, cercada de expectativa, terminou com frustração, gestos impacientes à beira do campo e um time que criou bastante, mas falhou em transformar volume em gol.

O roteiro do jogo foi claro desde cedo: o Milan comandou a posse, empurrou o rival para o próprio campo e empilhou cruzamentos e finalizações. A Cremonese, por sua vez, compactou as linhas, fechou o miolo da área e se agarrou a cada dividida como se fosse a última. Quando a bola entrou na área, quase sempre havia um defensor pronto para bloquear. Foi assim com Alexis Saelemaekers, duas vezes travado — uma com a direita, muito perto do gol, e outra com a esquerda, de dentro da área. Foi assim com a cabeçada de Santiago Giménez, abafada quase em cima da linha. E com Ruben Loftus-Cheek, parado no chute a curta distância. Até Ardon Jashari, de fora da área, viu o caminho fechado.

O desperdício cobrou preço. Em uma das raras escapadas, a Cremonese abriu o placar com Federico Baschirotto, que ganhou no corpo dentro da área e completou para a rede. O gol esfriou o estádio e deixou o Milan ansioso, apressando decisões no terço final. Ainda assim, o empate saiu nos instantes finais do primeiro tempo. Nas imagens dos melhores momentos, o autor aparece identificado como “Pabloic” — um erro de grafia que gerou dúvidas sobre quem desviou por último. A súmula oficial não havia esclarecido de imediato, mas o 1 a 1 recolocou a equipe de Allegri no jogo.

Na volta do intervalo, o Milan tentou manter a pressão. O desenho, porém, não mudou: muita bola cruzada, muitos corpos na frente da finalização e pouca clareza no passe decisivo. Loftus-Cheek teve outra chance limpa, dessa vez chutando para fora da região central da área. Christian Pulisic recebeu, partiu para cima, mas finalizou alto e torto em lance promissor. A cada oportunidade desperdiçada, a sensação de que o castigo viria aumentava.

Veio. Em transição pela esquerda, Giuseppe Pezzella achou o cruzamento preciso e Federico Bonazzoli apareceu para finalizar de canhota, do centro da área, no canto inferior direito. Gol cirúrgico, do tipo que decide partida grande com poucos toques. O Milan sentiu o golpe: insistiu, cercou, levantou mais bolas, mas não encontrou a brecha. A Cremonese se fechou ainda mais, ganhou tempo quando precisou e esperou o apito final para comemorar uma noite histórica: a primeira vitória no San Siro contra o Milan.

A imagem do fim de jogo diz muito. Bonazzoli vibrou como gol de título. Baschirotto, autor do primeiro, saiu abraçado por companheiros e comissão técnica. Do outro lado, Allegri, visivelmente irritado, reclamou de decisões e chamou seus jogadores para perto, num círculo rápido antes de todos irem ao vestiário. Para o treinador, que conhece bem a casa e o peso da camisa, começar atrás no placar da temporada não estava no script.

Por que deu errado para o Milan e o que esse jogo revela

O Milan foi senhor do território, mas pecou em três pontos: lentidão no último passe, previsibilidade nas jogadas laterais e baixa eficiência na área. Quando a bola passou pelo corredor lateral, faltou a diagonal curta por dentro para quebrar a linha rival. Quando veio por dentro, a Cremonese congestionou as zonas de finalização, forçando chutes apressados ou bloqueados. Tecnicamente, a execução falhou nos detalhes — chute sem equilíbrio, escolha errada de pé, tempo de ataque à bola ligeiramente atrasado.

Coletivamente, a partida expôs a necessidade de acelerar a circulação e variar alturas de ataque. Sem infiltrações de surpresa dos meias, o time ficou previsível. Loftus-Cheek apareceu bastante na área, mas sem o acabamento. Giménez brigou contra zagueiros e sobrou pouco limpo para finalizar. Pulisic foi insistente nos dribles, porém não conseguiu calibrar o último gesto. Saelemaekers gerou volume, mas também esbarrou no bloqueio. Ardon Jashari tentou oferecer chute de média distância, alternativa importante contra linhas baixas, e também parou no paredão cinza.

Do lado visitante, o plano foi honesto e bem executado. Compactação, coberturas curtas, agressividade no corpo a corpo e transições objetivas quando a bola era recuperada. Pezzella foi decisivo ao encontrar o cruzamento do gol da vitória, e Bonazzoli, frio para atacar o espaço e finalizar no único toque possível. Baschirotto representou a linha de frente da resistência defensiva e ainda deixou o dele. A soma desse tripé — defender bem a área, sofrer pouco em rebotes e ser letal quando a chance aparece — sustenta o tipo de surpresa que vira manchete.

Em jogos assim, a leitura emocional também pesa. O Milan ficou ansioso depois de levar o primeiro gol, encurtando processos que pediam um passe a mais, um giro de corpo, uma inversão para o lado oposto. O torcedor sentiu e reagiu com impaciência. A Cremonese, em vantagem, ganhou combustível. À medida que o relógio correu, as escolhas ficaram mais apressadas para um lado e mais calmas para o outro.

Alguns lances ajudam a resumir a história:

  • Bloqueios em sequência: Saelemaekers (duas vezes), Giménez e Loftus-Cheek travados dentro da área, além do chute de Jashari de média distância.
  • Oportunidades mal concluídas: finalização de Loftus-Cheek para fora, Pulisic alto e sem direção em jogada promissora.
  • Eficiência do adversário: Baschirotto abrindo caminho no corpo e Bonazzoli decidindo em finalização limpa após cruzamento de Pezzella.

Em termos de tabela e narrativa, é daqueles resultados que mexem logo na primeira rodada. Para a Cremonese, vale moral e lastro para acreditar no plano: organização, suor e frieza. Para o Milan, é um alerta precoce. A equipe produziu para ao menos empatar, mas não basta empilhar tentativas se elas não encontram o alvo. Allegri sabe disso e, conhecendo seu histórico, deve cobrar aceleração no passe entrelinhas, mais presença coordenada de quem chega de trás e um cardápio maior do que somente cruzamentos quando a área está cheia.

Há também o componente simbólico: perder em casa, na reestreia do treinador, contra um adversário de orçamento menor, amplifica o barulho ao redor. Mas a temporada está só começando. Corrigir timing, ajustar funções e decidir melhor nos metros finais costuma separar quem briga por topo de quem patina. A Cremonese mostrou, em 90 minutos, que disciplina e precisão ainda viram jogos gigantes. O Milan, por sua vez, saiu lembrando que a Serie A pune quem não mata quando tem a faca e o queijo.

agosto 24, 2025 / Futebol Internacional /
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